Pensar Hoje - retratos do agora

sábado, 10 de setembro de 2011

Ares novos, novos ares

Sair pode não significar abandonar. Ao alçar voo, temos novos objetivos e novas perspectivas. E a vida é incongruente, não injusta: nos dá, a cada de nós, um diferente ponto de vista. Novos ares dão nova perspectiva, ainda que continuemos os mesmos. Expandem nosso viver.

Por isso tíquetes são passagens, ritos para chegar a outros destinos. Mesmo um velho destino sempre traz um novo horizonte e uma nova história. Quando escolhendo a bagagem, que é a história, escolhemos as coisas mais a nós caras quando viajando para longe. É que, para não sentir saudades da nossa origem, devemos levar algo que nos lembre de quem somos.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Recomeço

Há coisas que simbolizam recomeço. Uma delas é perder, pois quase tão somente ao perder nos encontramos. Por isso no tarô o enforcado frequentemente ri: ele nos conta que estar de cabeça para baixo não significa estar em maus lençóis. Desprender-se não só significa liberdade à matéria, clama também pela independência, pelo augúrio de novos caminhos e sangue renovado.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Os dons bem bons

É bonito ver os dons. Eles independem da situação em que a pessoa se encontra: todos têm algum. Por vezes, eles se tornam até uma obrigação porque podem ajudar outras pessoas, quiçá mudar suas vidas. E não é necessário que se seja um ídolo, somos todos humanos. Por favor, continuemos humanos.

sábado, 4 de dezembro de 2010

E o tempo?

Ele é imutável, mas o sentimos passar. Cabe tanto em um olhar quanto em toda nossa vida. Não podemos medi-lo, já que não nos é físico. Ainda assim, estabelecemos na existência passos para ele: nove meses para nascer, um ano de sofrimento, décadas de diversão, milênios de solidão. Algumas dessas são compreensíveis, outras não.

Uns dizem não entender o porquê de um segundo ser tão importante, outros que nele pode estar toda a nossa vida, todo nosso propósito, ao acontecer. E a medida, tão igual a todos porque passa à mesmíssima maneira para cada um, encontra dúvidas. Se ele fosse realmente assim, não teríamos nossas exclamações: "já?", "ainda?", "é cedo!", "é tarde!".

Parece que ele depende de um observador: quando contamos os segundos no relógio, eles demoram a passar. Ao nos divertirmos, os segundos transformam-se em horas passadas. À última hora da vida, quando sabida, é impossível a hora ter maior valor. E esse tempo todo, no fim, para onde vai?

Investimos-no, certamente finito, em coisas vãs ou necessárias, alegrias e agruras. Mas quando mesmo foi a última vez em que paramos a vida, a que quase certamente passa afoita e às vezes perde a paisagem, para prestar muita atenção no nada que temos dentro e fora?

É uma ofensa à vida ou à existência percebermos ter, dentro de nossos sis, enormes vácuos esperando para serem contemplados? O grande céu, azul e límpido, escuro e mais notívago ou claro e em formas de bolos, acha-se como uma vastidão que nos parece vazia ao olho nu. No entanto, atrai inúmeros observadores n'onde sua incolumidade e... quase inexistência congrega olhares estupefatos para sua imensidão.

Sua alternância de matizes nos dá o horário e nos orienta a dormir e a acordar. Define, pouco a pouco, quanto temos para cumprir nossa jornada, e nos permite ou obriga a uma pausa a cada período.

Só uma pergunta: para a pausa ser um descanso, o céu tem de estar fora ou dentro de nós?

sexta-feira, 2 de abril de 2010

E hoje o pensar muda para o que era antes

Passei, ontem, por um lugar querido.

Como muitos sabem, lugares queridos emocionam. Revi algumas pessoas muito importantes na vida. Não, não são líderes, professores, chefes. São pessoas que compunham o dia-a-dia, formavam parte da vida e da rotina.

É uma homenagem a essas pessoas que constroem parte de nossa vida sem que saibamos - ou, até, sem que elas próprias saibam. De atendentes de padaria a garçons de bares, frentistas ou até funcionários de estacionamentos, pessoas fazem vidas sem que sequer percebam - ou, se percebem, o fazem muito bem.

Parece estranho, mas percebemos muito disso só depois de mudarmos para outro lugar. E, se não nos revisitamos, não vemos o que fomos e talvez também não percebamos quem podemos ser.

Mais bonito ainda é rever certos brilhos nos olhos. Estes não podemos descrever, então cabe a nós cuidarmos de guardar, amanhã podemos não voltar.

Muito obrigado.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

O tempo chora

Lavando nossas almas, ele nos surpreende com a clareza de algo que está por vir. Nesse momento, perguntamo-nos o que há além da cortina. Diz ele contar o que realmente queríamos ouvir ou falar. O imprescindível então resseca nossas lágrimas para entendermos mais, contarmos melhor, lermos nas entrelinhas. Não é possível, dizemos. O céu só nos diz para parar. Parar. E observar.

Assim quero ficar, por um belo tempo, até a compreensão vier e me acordar, contando a história para eu poder dormir.

É breve o tempo chorando. Só que dura muito.

Hoje choveu.

domingo, 19 de julho de 2009

Rebelião

O espírito sem resposta também não tem casa. Ela é uma música que cantamos a toda hora quando criamos uma ilusão em nossa cabeça: a vida tem, tem de dizer, nos dá a sensação de que tudo poderia ser feito quando sim, é verdade!

A ilusão nem sempre é algo falso. E serve, muito bem, para dizer-nos que algo, que já existe, existe. Digo porque nem sempre sou ouvido. Esse objeto pode precisar de amparo para viver ou cai no sincero esquecimento. E esquecer, também, não é não lembrar, porque ninguém esquece.

Lembrando a arte do amparo, precisamos dele. Não porque somos únicos ou mais juntos, é que não dá para fazer tudo. Daí acontece. A revolta? Também não é revolução, é só vontade de mexer, remexer. A revolução só acontece se alguém tiver mexido os ovos, senão tudo são branco e amarelo.

Aos olhos de quem vê o ovo, o irmão diz tudo: "sou amarelo e você preto, azul, verde, castanho. Contudo, temos muito em comum. Mas por que você não nasce, assim como eu?". Somos caso a se pensar, reflitamos. Não há como amalgamar a massa fluida ao nosso duro julgamento, ele só enrijece e devemos aproveitar enquanto podemos ver.

Ou sentir. E nisso construímos as rebeliões dentro de nós, por isso nos sentimos impertinentes. Dói mas é. Viver sempre fará falta, também aproveitemos. Nada melhor que uma revolta para voltar, continuar o que era com outra cara, diferente.

A vida não é cara.