Pensar Hoje - retratos do agora

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

O livre pensar

Nosso pensar inconstante
Engana a filha tardia
Trova respeito bastante
Quando ele ganha um dia

Meu desatino é estante
Faz-te seguro, adia,
Diz que sou infiel, tratante
Talvez incerto; eu cedia.

Permanecer sempre o mesmo
É involução de alguém
Dê-se um ligeiro espasmo

Seja o desleal sempre aquém
E um inimigo no abismo
Cuida de ti, sempre além.

[ 27/11/2007: venus: libra / lua: câncer / mercúrio: escorpião / netuno: aquário / chiron: aquário ]

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

A gota

Há uma gota nova no meu copo d'água. Ainda quero tomar água. Olho o copo: este me chama, gritando para que eu o esvazie, o consuma. Não sei descrevê-lo, não digo se está meio cheio ou meio vazio, acho que já não foi enchido na totalidade.

No atual torpor, também não sei dizer se a água é doce, com aquele maravilhoso gosto de novidade, cristalina - ou se ela é inodora, insossa, meio fosca - olhos fechados, dentes cerrados e nariz entupido. É claro que lembro como são as duas!

Sinto isso porque sinto falta. Sinto, falta isso porque sinto. Tal absinto não comove a alma, ela precisa ainda de um pouco mais. Ou precisava não ter perdido mais um pouco. A caneta falhou ao passar por uma gota d'água. Não devo me prender. Não devo me prender.

Tudo bem, não quero encher novamente o copo. Já tem da outra água, essa é doída. Não posso engolir mais dor se o tomar. Que o papel leve consigo, as palavras já rimam com tais águas. Ele até parece amassado sem ter sido sequer dobrado!

Hoje não te vejo, né? Amanhã te encontro. Te encontro. Quem sabe em um dia. Saudade. Dor. Doída de falta e choro e trepidação e desespero e abraço e carta e lágrima e água e caneta e... lápide.

A carta é pra mim... As palavras são para você...

sábado, 10 de novembro de 2007

Saudade

Acho que a distância malévola feia boba e chata entre um lugar e outro é diretamente proporcional à vontade de estar nele. Se estes quilômetros representam algo em uma fórmula física, e a ela está atrelada minha vontade, em quilos de vontade de tocar, cafuné, colo, beijo, carinho, dengo, estrela, céu, dossel, celeste, lunar, embriagado no peito, a fórmula não inclui multiplicação nem potência, deveria existir algo maior – e agora?

Não sei. Agora a lâmpada está brilhando menos, algo está errado. Vou andar um pouco, mas a luz vai acompanhar, em meus olhos, todo o trajeto até o café. Sabe, assim, fitar sem perceber a cegueira vindo? O telefone tocou, mas não ouvi. Até esqueci de respirar um pouquinho... Vou, é, tomar o café.

Até incomodou o peito. Só respirando um pouco fundo para esquecer. É que lembrei, então precisei tirar da cabeça. Amargo. Ponho açúcar. Luz. Fecho os olhos. Você. Abro os olhos. Café. Tomei. Fechei os olhos de novo. Apertei eles. Respirei fundo. Fiz até bico. Cara de preocupação.

Você. A luz tem um “quê” de viciante quando penso em você. O escuro me faz tentar abrir os olhos. O meio termo só pode ser você, porque o resto não existe. É como se no baralho só tivesse o ás e o rei. E você são de dois à rainha. Só não é ás ou rei porque nestes me cego para te ver.

Vamos tomar uma água doce. Comer um xuxu maravilhoso e suculento. Apreciar uma alcachofra saudável. Porque quando vejo ás ou rei, a água não tem gosto, o xuxu é marrento e a alcachofra me dá náuseas. E o maravilhoso café? Ah, é só pra te esquecer.