Pensar Hoje - retratos do agora

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

O cipreste

Imponente, a mim é um milagre da criação: não há avenida menos chamativa quando vejo duas fileiras de meia dúzia deles. O vento o acaricia igualmente e ele corretamente o reverencia. Teve importância grande em minha criação, admito. Todos somos vento, passamos desapercebidos sempre que quisermos. Só que ele sempre nos notará, sempre tentará captar mais de nossa motivação.

E é ele, o motivo. Ele é o sopro, o motor. Nunca admitimos nadar contra, mas acontece a toda hora. Deixar ir é mais fácil que deixar se ir. Partir a si próprio admite duas interpretações. Ambas corretas porque deixar o recinto também é deixar um pouco de si para trás.

Claro, alguém o plantou. E sim, é verdade, sofrerá com as ervas daninhas, os fungos, os lenhadores. Ainda é requisito, para quem quiser desvendar os céus, vencer a terra. Ao menos por aqui, onde quem manda é ela, alimentando a raiz; os céus, o cimo.

Quando pensamos ser ou ter asas, devemos lembrar que elas nos fazem algo entre planar vagarosamente ou rasgar os céus: geralmente só recordamos a liberdade implicada. Ela nos deixa com a escolha de admirar a paisagem ou lá chegar. A verdade é que ninguém sabe exatamente onde é lá. Então muitos resolvem admirar a paisagem.

Um cipreste não sai de seu lugar, mas a única referência que seu cimo tem é o vento. Ele pode escolher entre permanecer parado a contemplar o vento e permanecer em movimento vendo o vento passar. E a razão dele estar sempre verde é que ele, nessa avenida, viaja pelo mundo com seus onze companheiros.