Pensar Hoje - retratos do agora

segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

Inconsciência

Aquela fresta na janela do seu quarto. Ele não é hermético, é? Podemos achar que somos invencíveis, incríveis, poderosos e até ditadores. Mas nossas flechas não entram pela fresta. Destruímos a janela, mas ela intacta permanece.

O que dizer dos seres que são coração, mais coração que espírito? A ínfima luz é capaz de lavar nossas almas sem sequer perguntar. Quando os indignos por ela clamam, eis a pura consciência - e os que assim permanecem ignoram-na.

Também é aquela luz que sobra em nossos olhos quando olhamos para o fogo e em seguida para o breu. O fogo lambe nossa face e fica impresso na mente. Não ignore o sol, ele cava nossas raízes para enaltecer nossa jovialidade em troca de um pouco de idade.

Já reparou que o tempo passa mais rapidamente no breu? Esquisito, não? O que prefere? Envelhecer sabendo o tempo ou desconhecendo a idade? Pairamos, como moscas, sobre o desejado doce, o destino! Mas qual seria seu destino? Se não sabe, deve procurar. Se sabe, deveria esquecer um pouquinho.

Por que conseguimos tomar sorvetes sem que eles derretam mas não conseguimos alcançar nossos sonhos sem que eles mudem? A inconsciência explica isso. Ela diz "tu a tudo te adaptarás" e vive nos enganando. É nossa cova e nosso desejo - mas morrer um pouquinho é bom para viver muito.

Muito explica o porquê dela ser somente uma fresta: tentamos aos poucos matar a inconsciência mas sempre sobra aquele pouquinho, como num buraco negro: um dia explode levando-nos consigo. E depois a vida é confusa porque tudo o que queríamos era só viver em paz, ter amigos, quiçá alguém.

As pessoas choram-na. Quando não, ela tenta sair pelo peito! Erramos ao subestimar a força do que nos é posto: temos o que podemos segurar. Não podemos fechar os olhos para a luz, ela vem de dentro.

"corde pulsum tangite quod per sortem sternit fortem" (Carl Orff - O Fortuna)

quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

Paulista

Venha até São Paulo!
Onde devemos estar não importa
É que podemos brincar, venha!
Tem concreto, sim, mas planta!

Planta seu sonho, aqui nasce
No stress, mas sem floresta
É que devemos cuidar, venha!
Tem gente, sim, mas enfrenta!

Enfrenta sua vida, ela tece
O destino, só de uma aresta
E brincamos podendo, venha!
Tem vida, sim, mas mostra!

Mostra sua cara, ela alegra
Sonhos dourados do barista
E cuidamos devendo, venha!
Tem calor, sim, mas vença!

domingo, 23 de dezembro de 2007

Mais pó no café!

Olá, querida,
Mais pó no café
Vem gente prosear
Vamos arrumar a mesa

Sim, seremos mesmos
Parecemos velhos, seremos mais
O café não pode aguar

Ei, meu amor,
Mais pó no café
Vamos contar histórias
Brincar no pleno sereno

Conte-me, sem medo,
Você parece que sofreu na vida
O café não pode aguar

Ah, minha flor,
Mais pó no café
Um brinde para a gente
Beber e não florear

Te amo assim,
Você sabe que a vida é assim,
O café não pode aguar

sábado, 22 de dezembro de 2007

Melodia da mulher

Caminho na rua estranha. Quando a vejo desconheço até quem veio me ver sozinha e tão solitária. Não sei aonde ir contigo! Por que você sai, me deixa?

Este meu assoviar diz: aquieta-te por mim, linda, sou quem você sempre quis! Dê-me uma gota de sol, sorria com minha mão, deixe a vida nos levar...

Flerta comigo, me beija! Lê, brinca com minha mão; sou da sorte que tem força, da força que tem a sorte de estar com você, tão perto, pra cantar hoje eu te amo...

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

O livre pensar

Nosso pensar inconstante
Engana a filha tardia
Trova respeito bastante
Quando ele ganha um dia

Meu desatino é estante
Faz-te seguro, adia,
Diz que sou infiel, tratante
Talvez incerto; eu cedia.

Permanecer sempre o mesmo
É involução de alguém
Dê-se um ligeiro espasmo

Seja o desleal sempre aquém
E um inimigo no abismo
Cuida de ti, sempre além.

[ 27/11/2007: venus: libra / lua: câncer / mercúrio: escorpião / netuno: aquário / chiron: aquário ]

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

A gota

Há uma gota nova no meu copo d'água. Ainda quero tomar água. Olho o copo: este me chama, gritando para que eu o esvazie, o consuma. Não sei descrevê-lo, não digo se está meio cheio ou meio vazio, acho que já não foi enchido na totalidade.

No atual torpor, também não sei dizer se a água é doce, com aquele maravilhoso gosto de novidade, cristalina - ou se ela é inodora, insossa, meio fosca - olhos fechados, dentes cerrados e nariz entupido. É claro que lembro como são as duas!

Sinto isso porque sinto falta. Sinto, falta isso porque sinto. Tal absinto não comove a alma, ela precisa ainda de um pouco mais. Ou precisava não ter perdido mais um pouco. A caneta falhou ao passar por uma gota d'água. Não devo me prender. Não devo me prender.

Tudo bem, não quero encher novamente o copo. Já tem da outra água, essa é doída. Não posso engolir mais dor se o tomar. Que o papel leve consigo, as palavras já rimam com tais águas. Ele até parece amassado sem ter sido sequer dobrado!

Hoje não te vejo, né? Amanhã te encontro. Te encontro. Quem sabe em um dia. Saudade. Dor. Doída de falta e choro e trepidação e desespero e abraço e carta e lágrima e água e caneta e... lápide.

A carta é pra mim... As palavras são para você...

sábado, 10 de novembro de 2007

Saudade

Acho que a distância malévola feia boba e chata entre um lugar e outro é diretamente proporcional à vontade de estar nele. Se estes quilômetros representam algo em uma fórmula física, e a ela está atrelada minha vontade, em quilos de vontade de tocar, cafuné, colo, beijo, carinho, dengo, estrela, céu, dossel, celeste, lunar, embriagado no peito, a fórmula não inclui multiplicação nem potência, deveria existir algo maior – e agora?

Não sei. Agora a lâmpada está brilhando menos, algo está errado. Vou andar um pouco, mas a luz vai acompanhar, em meus olhos, todo o trajeto até o café. Sabe, assim, fitar sem perceber a cegueira vindo? O telefone tocou, mas não ouvi. Até esqueci de respirar um pouquinho... Vou, é, tomar o café.

Até incomodou o peito. Só respirando um pouco fundo para esquecer. É que lembrei, então precisei tirar da cabeça. Amargo. Ponho açúcar. Luz. Fecho os olhos. Você. Abro os olhos. Café. Tomei. Fechei os olhos de novo. Apertei eles. Respirei fundo. Fiz até bico. Cara de preocupação.

Você. A luz tem um “quê” de viciante quando penso em você. O escuro me faz tentar abrir os olhos. O meio termo só pode ser você, porque o resto não existe. É como se no baralho só tivesse o ás e o rei. E você são de dois à rainha. Só não é ás ou rei porque nestes me cego para te ver.

Vamos tomar uma água doce. Comer um xuxu maravilhoso e suculento. Apreciar uma alcachofra saudável. Porque quando vejo ás ou rei, a água não tem gosto, o xuxu é marrento e a alcachofra me dá náuseas. E o maravilhoso café? Ah, é só pra te esquecer.

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

A luta

Vá, Bóreas, ser titã, espalhe a todos sorte
Sejam outros então livres de toda sorte
Espalhe com sua fúria o vento deste norte
Sem éolo, sem luxúria, roga: que seja forte!

Venha, Caos, crie a força a reger esta terra
E que Gaia floresça crescendo até Canberra
Dos conhecidos, Ursa e Camaleão, não cerra
A porta vital, nasça e, dependendo, morra

Sejamos ambos parte de uma história, luz
É só parte da vida que tem de morrer.
Sejamos ambos parte de uma história, força
É só parte de um ciclo que tem de passar.

Mas venha, sê luz e escuridão bem comigo...

terça-feira, 23 de outubro de 2007

Cadê o amor deste peito

Digo que ele nunca se calará
Ele só talvez seja diferente
D'algo que existe bastante

Esse não tem verso certo
Nem inverso incerto
É simples como a água pura

Límpido dos céus
E reto como o prumo

Só é ele um outro que não sei.

Também é o amor

Música cantada no chuveiro

Água sentida ao tomar banho
Gosto de saborear a vida
Como se ela colorida fosse

Não tem cor a vida, sabe?
Dizem ter mais - é do rei do salão
Viver sem pensar em olhar
Quero ser sempre observador

Só hoje tanta gente olhou feio
Para a vida que ainda há por vir
Quem é pai ou mãe sabe bonito

O triste dizem que ainda nos vem
Quem dera! Somos alegres, não?
Tão simples é viver com amor...

Os amigos

Tem gente que gosta de cidade grande
Tem gente que gosta de roça
O que importa a todos
É ter amigos para bandear junto

Não importa a bandeira do estado
Nem o estado da bandeira
O que importa a todos
É ter amigos para bandear junto!

O torpor

Ah, senão o melhor jeito de permanecer
Não, querida, não deixe de esmaecer
Estas arestas que há tempo parei de planejar
Até porque nós, sim, vamos almejar

O que há muito seria o simples alvorecer
Nos é sempre uma batalha do florescer
Ainda sentindo minha mente gotejar
Pelo simples pensar e sobejar...

Desconheço escrever e até cheirar
A lascívia tirou-me a contento
Todo contexto da vida, como viver

Não preciso mais me enfileirar
Como os vivos, me alento só
Queridamente a hoje de novo te ver.

O cafuné

Dou-lhe um cafunezinho
Vem do meu coração
Sim, hoje, canto a música
Pra você se alegrar

Tem colinho pr'ocê
Com gostinho do mel
E cheirinho de chuva
Pra você se alegrar

O colo

Ele é cândido, puro, livre,
Feito estes versos que me fazem notar
Sendo lírico, dá até para cantar
Sei que nele posso confiar

Posso desdenhar a rima
Porque meu colo amado é, de novo,
Livre como um cheiro que nos escapa
Ou um amigo que sempre volta

Não sei você, mas eu gosto de cores
Brancas, as que tudo representam
Mostram o lado bom que temos

E as pretas, também para equilibrar
Somos os seres complexos e simples
Simples como um bom colinho.

sexta-feira, 12 de outubro de 2007

A divisão

Ah, como nós gostaríamos
Que ocê dois se fosse
Para ficarmos nós juntos
Porque a gente gosta

De a esmo sempre prosear
Disputar você
Porque é sempre um ser querido
Disso não duvida!

Vem, senta aqui no meu colo
Que eu quero um chamego
Pra sorrirmos de inocentes

Vamos tomar um refresco
E dormir juntinhos
Ninguém aqui tem maldade...

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Uma coragem

Desalumbro o escrever ou pensar hoje
Admito, já ignorei caminhos a nos cruzar
Amanhã intrépido é o tépido tempo a nos tentar
Trepido ao ver tal mão sua que num dia me fugiu.

Carros devem ser insignificantes para levar
Sonhos de dias magníficos. Lembro ainda
Quando lhe encontrei e disse que sabia
Tudo a dizer ao ler seus olhos claros de paixão

Amor é tão agora comum porque a palavra
Ela desdiz que algo o fora prometido; aquele carinho
Não lembra existir entre suas lindas mãos

Aquele carinho a desdiz agora existir porque
Palavra é algo prometido; entre suas mãos lindas
Ela não lembra que fora tão comum o amor...

segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Comentário à ansiedade

Sal, este também mar nosso
E as névoas fazem a vida
Sou catatônico quando
O esperar não me se explica

É a emoção que me dá à hora
A ilusão do que resolve
Inda, sinteticamente,
Encontro-me resoluto.

Resguardo minhas palavras
Não aleatorio a tal vida
Esta terá algum sentido

Soluçar e chorar, veias
Correndo por almas d'outrem
Quiçá em meu peito vivido.

PS: Inspirado por “Ansiedade” de Marcia Soleni

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Ao pensamento d'ouro

Servem-se lembranças
Em nossa ciranda a infelicidade
Não tem qualquer vez
Conosco não escolhamos palavras.

Vamos todos ouvir
Os pingos d'água a cair na janela
Aos nossos semelhantes
Conferir toda nossa proteção.

Quem irá proteger
Aos que hoje conferem atenção
Os jovens d'ontem
Cresceram também desalentados.

O carro do sonho
Pode ser luz da mais escura
Não muito importa
Será decerto um brilhante.

O carro dos sonhos

Sentimentos são levados
Pelo que nos dias viveu
Feitos são realizados
Pela mão que suou

Vamos descobrir
O que sentimos e tocamos
Correremos risco
De não saber o que sonhar.

Vive, sim, hoje,
Mas pensa no amanhã
Pode ser tarde
Se não acordar agora.

Pensa, sim, hoje,
Mas sonha no amanhã
Pode ser tarde
Se não dormir agora.

Tudo é desconhecido
Quando é fora da gente
Então não ignora
O que dentro sente.

Isso de rótulo
Só o produto é que leva.
Seja você
Que tem quem vai gostar.

E eu não rotulo
Porque não sou produto.
É, sim, bonito
O que é hoje sincero.

quarta-feira, 12 de setembro de 2007

O menino

Era frio.

Esfregando suas mãos geladas, o menino resolveu passar algum tempo fora de casa. Tinha sido um bom aluno e decidira contemplar as folhas das calçadas ao vento, os amigos correndo e jogando taco, o muro do clube que já pulara várias vezes, a avenida que era ostensiva com seus carros andando para lá e para cá.

A tarde estava bonita: pessoas alegres e o sol quase indo deitar. Ela encheu de lágrimas os olhos do menino ao recordar, mais uma vez, a existência de sua mãe. Era o desejo de ainda falar palavras para, mesmo que na imaginação, contar o dia e compartilhar seus sentimentos.

Deitou-se no chão liso e disse bem baixinho para só ele mesmo escutar. Era oração própria de seu mundo. Tudo da cabeça. Formigas andaram por sua mão, mas ele não parou. Já estava ficando tarde, mas a palavra precisava sair. Os amigos o chamaram para andar de bicicleta, mas ele queria falar.

Sete horas e o sol já tinha ido. Palavras ditas, notou que as folhas da calçada tinham sumido e os amigos já tinham ido jantar. Voltou para casa e encontrou a mãe; e a surpresa: voltou de viagem mais cedo. Abraçou-a e fechou os olhos com o mesmo sorriso das lágrimas.

Aconteceu...

Como um lindo dia // Aconteceu...
Cativou a minh'alma // Aconteceu...
Um misto insólito // Aconteceu...
Belo e imponente // Aconteceu...
Me apaixonei // Aconteceu...
A paixão que veio // Aconteceu...
Envolveu meu peito // Aconteceu...

Acabou-se tudo
Que eu imaginava ter
E desacreditava
Na desilusão em mim

Ainda quero colo
Sem o paraíso, eu sei
Hoje é o escuro
De ser alguém sem ti

segunda-feira, 13 de agosto de 2007

Meus caminhos

Andei cedo hoje. Vi que, neste mundo, somos todos criancinhas. É adequado dizer isso: não existe a figura dos comunistas. Estes ao assim classificarem geralmente o fazem por desacatar dissonantes pontos de vista. É a voz que desce a ladeira e, ribombante, ecoa em nossos ouvidos como o zunido restante da pletora de carrinhos de rolimã.

A coragem plantada em nossos peitos, dulcíssima como paradoxo - principalmente quando crianças na idade - pode, com o tempo, se esvanecer: tem coisas de gente grande. E ser gente grande nem sempre é lecau. Escapa oxigênio de nossas vidas como se em nosso coração houvesse um forame.

Crescer, então, pode ser interpretado como enraizar-se, paulatinamente, a uma série de convenções que nos tornarão iguais por definição e diferentes por opinião; a criança quer, é claro, ser diferente: ela não tem medo de fazer algo diferente do que todo mundo já tentou.

E como os gerentes ao administrar empresas dizem que os funcionários precisam crescer e se desenvolver? Para ser criativo basta ser criança e, mais importante - devo dizer -, deixá-la brincar no parquinho! Mas esqueci, o mundo corporativo teima em ser autoritário (benévolo ou não).

Vamos plantar uma sociedade mais jovial.

Se quiser, mas ninguém deixar, faça com o que você tiver autoridade sobre. Dê esperança. E esperança não é nome de programa social, não não não. Todos os estratos precisam disso para sobreviver. A criança, mais que nunca, sabe disso.

Aprendamos com nossos bebês.

Somos todos crianças. Diferimos ao passar a gostar de cappuccinos com canela ao invés do leite puro. Ao lidar com o ambiente por completo, de forma progressivamente complexa conforme vivemos. Aprendemos muito, inclusive como funcionam corpo humano e mundo, como podemos melhor produzir. Só que, sobremaneira, somos crianças...

domingo, 12 de agosto de 2007

O sabor

Sabor. É isso aí.

Pode ele ser descrito de incontáveis formas. É onipresente: principalmente nas coisas que envolvem nossas emoções. E, na realidade, poucas vezes paramos para descrever quais são as “notas” do sabor. Qual é essa música? A orquestrada por todos, realmente composta poucas vezes?

No encontro amoroso, lembramos o sabor do beijo. Assim, ele deixa de ser simplesmente “o beijo”. Será bom também pelo sabor: as peles, as bocas, as línguas têm seus gostos peculiares.

Assim preciso também citar o cheiro, sempre seu acompanhante. Faz toda a diferença! E aquele perfume - quando em lugares estratégicos - ah, assemelhado à perfeição! Nem é necessário, assim, ser forte: a situação se encarregará de colocá-lo sob a supervisão de nossos narizes, sempre perspicazes. Afinal, por que as pessoas classificam perfumes como “amadeirados”, “cítricos”, “doces” e coisas do gênero? Tem explicação.

O sabor tem seu lugar em tudo.

Não há palavras para descrever o que é sentir o sabor de algo.

No máximo, alguma máquina irá reproduzir o sabor exato; mas sentir... Ah, o cérebro, o cérebro! :)

sexta-feira, 10 de agosto de 2007

O conto da indecisão

conto de fadas - não reflete a vida real

É sexta.

Estou na dúvida se convido ou não. Se estou atraente ou não! Se minha voz parece convincente... Até se a minha vida, simples como sempre, está ou é boa! É um bom dia hoje. Só o dia, acho, não consigo pensar no resto. Liguei para o ser e, ah, o que será requerido de minha pessoa indecisa? Nem a roupa sei qual usar.

Confesso, quase tudo me atraiu. Por que amo assim, meu bom senhor? Nem conheço direito, acho. Mas acho que conheço! Que esperaria de mim, ser tão indeciso e ao mesmo tempo impuro pelas decisões e incólume por pensamento?

E quase é por minha insegurança.

Vou fazer um convite a passear por uma rua: lembro-me até hoje ser larga, avenida, esverdeada pela natureza, mesmo grande, calma. Já por lá, lugarejo típico de dois animados introvertidos, andamos, comedidamente, a discutir o que realmente as pessoas podem pensar sobre a vida. Essa é vista por cada um diferentemente, principalmente quando agimos pouco.

À noite, tomar um cappuccino requintado, polvilhado de canela, quente na medida, em xícara de feitura especial para momentos que desejamos ser bonitos. Depois, pretendo flertar, com toda a ternura conhecida por mim como gente, seus olhos negros mais bonitos...

E, ao sábado, acordar com todo meu bom humor, mostrar-lhe meus álbuns das fotografias que em minha vida tirei, tão carinhosamente, e abraçar, mas tão somente abraçar com toda, toda a dedicação que reconheço em mim, até servir-lhe um café da manhã na cama.

Nessa noite, gostaria de sentir seu perfume, entre amadeirado e doce por natureza; de que ele ficasse encalacrado no meu nariz, já torpe por sua presença, para que eu sempre possa sentir o cheiro voar em minha mente...

E então sentir-lhe.

Ainda não sei como fazer o convite. E já prevejo tudo de antemão: tudo como gostaria. Meu medo trai; diz-me que não será assim, que acontecerão coisas para tirar-me de minha ilusão, fantasia bela e serena encravada em meu ser.

Todas as experiências pelas quais passei voltam como filmes, bem dirigidos, no cinema da minha mente, altamente criativo mas sempre atrelado ao que vivi, coisas boas e ruins. Tudo se soma mas a conta, desvairada e às vezes injusta, nunca é matemática.

Sou eu pessoa impura e maculada ou ser ingênuo e intocado? Ninguém me diz. Posso até perguntar, mas as convenções torpes da sociedade, dita madura, não me são sinceras. E quando poderei eu saber onde há verdade? Talvez só tentando...

... e é hoje que eu tenho de decidir.

quinta-feira, 9 de agosto de 2007

Tudo igual...

Neste mundo a diferença procuramos
Sabe, precisamos pensar no que é igual
Para identificar o talvez diferente
Hoje eu sei um pouco do que é você

Folhas caem da mesma forma, como ontem
Observo na quietude e lembro quem sempre foi
Seu nome deve ser a última coisa a ser lembrada
Um coração não se identifica quando pulsa

Bebo líquido, quiçá, igual ao de ontem
Igual, simples punhado de água, vê que
Aprecio pureza e transparência
Pessoa intensa, embora não pareça

Hoje não quero seguir minha regra
Ela é especial para entender:
Somos águas no mar...

quarta-feira, 25 de julho de 2007

Nada pensar

É outra palavra. Outros chamariam de neologismo, mas isso é muito 1984. Porém, veio em minha mente que geralmente quando passamos de uma "fase" para outra (não, não é RPG) as pessoas ficam um tempinho no "nada pensar".

Bem diferente de simplesmente olhar a esmo e nada ver. Pode ser que você queira pensar em outra coisa, mas a mente simplesmente reverbera o nada. É assim que você se sente diferente, é assim que é delimitado o "antes" e o "depois".

Momento este único é porque não tem volta. Transformar-se em si próprio, cada vez mais. Inclusive foi motivo para escrever em prosa, e não em poesia. Claro que continuarei a escrever nos versos; mas isso foi só para dizer um... oi.

terça-feira, 17 de julho de 2007

Flores

Para uns, o pensamento
É um mero abandono
Quiçá perseverança
Por que não viajar?

Cravos, lírios, acácias
Da tulipa ao narciso
Tantas flores são belas

Quando achamos beleza
Só aqui dentro de nós
Mas elas compõem tudo

Belas cores e aromas;
Perfeições e impurezas
Representam o visto
Como belo e singelo

As flores nos cantam.

segunda-feira, 9 de julho de 2007

Desvio de um poema

Escolhi num pulo
Acordei as gavetas pra vestir
e o melhor sorriso abri!

Rodopiei ao vento; dancei.
Da contradança, das minhas gargalhadas
os sons... Honra! Se ele me dá

Hoje a febre terçã, uma porque
Tudo isso ferve uma cama e o corpo!
E o que tudo isso prepara...
Você tem amanhã o gosto de sangue!

PS: Inspirado por “Saltitante” de Milena Palladino

Luz e vida...

O sol a prumo
Contou-me!

Sou quem dele sentirá saudades
E desejará dormir com ele

O sol ao dormir
Revelou-me

Sou nascida de esperança
Porque a luz é só isso!

domingo, 8 de julho de 2007

Poema 2

Sou poema intransigente
Lembro, para quem me lê
Eu sou gente, mas penso que
Um mais um são, sei lá...

Quero sentir mão segura
Mostrar beijos para alguém
Lutar capoeira comigo
E me recitar quando te vejo

Tudo bem, pode me falar
Já não sei quanto mais ver
Antes de lhe dizer amor

O olho que hoje leio
É para não pensar na guerra
Pensar menos no escuro

sexta-feira, 6 de julho de 2007

Poema 1

O não saber e o saber

A herança da diferença
Acontece n'algo que achamos leal
Não tem tempo para nada
Caso ninguém tenha notado

Cartas dizem muito
Previsões devem ter me enganado
Posso ter certeza de que não sei
Não saber que tenho certeza

Decisões são ímpias a alguns
Milagres para outros
Mas quando você não sabe
Talvez seja uma inquietude

Digo e me irriquieto ao ler cartas
Outrora sabia-se no coração algo
Hoje sabe-se outras coisas
Lembro-me de tudo como se fosse hoje...

sexta-feira, 22 de junho de 2007

Hoje é o aniversário de uma geração

Feliz aniversário a todos os que um dia nasceram.

Todos são, vivos ou não, filhos de uma certa geração. Todas as gerações passam por isso todos os dias. Isso porque a sociedade é um organismo. Na realidade, não uma geração, mas um corpo inteiro quem aniversaria. Somos células que representam menos ou mais dentro desse corpo. E como tal devemos nos comportar, coisa que geralmente não acontece. A sintonia com o todo acontece automaticamente, queiramos ou não. Todos são humanos.

É filosofia barata, eu sei. Mas também é verdade, uma verdade que geralmente passa batido pelos olhares das pessoas. O olhar para dentro também consegue identificar tudo o que tem - mesmo que espalhado - lá fora. É só caçar. Somos um e todos ao mesmo tempo e isso às vezes confunde as pessoas. Elas geralmente têm a famosa necessidade de se diferenciar, e ao fazê-lo acabam encontrando-se onde chamam 'lugar comum'.

Então o que um diz ser virtude outro despreza, é fato. O mundo como um todo não é capaz de tolerar tudo, como sabemos. Até pela auto-preservação. Mas podemos encontrar nichos nos quais nos identifiquemos, chamados tribos. Nesses lugares ou pessoas, encontramos o que se chama identidade. Identidade de "ser idêntico a", e não diferente; porque para podermos classificar algo como identidade devemos primeiro determinar o que é. E ao determinarmos, padronizamos.

Padronizar, como podem imaginar, às vezes pode não ser ruim. Ser igual a outro pode ser saudável. Claro, se naturalmente. Não devemos chegar a conclusões precipitadas com relação a nosso futuro: nós mesmos podemos mudá-lo sem mesmo perceber. Nem ao passado: pode ser que amanhã o elogiemos ou desprezemos. Ou simplesmente sigamos adiante.

Não há tempo para o aniversário de uma geração. É só, claro, quando a geração toma consciência de que algo mudou, ou percebeu que algo existe. É mudando que ela cresce...

quarta-feira, 20 de junho de 2007

Inauguração

Escrevo, neste post, à minha amiga Amanda Maron. Um comentário pertinente ao blog dela me motivou a escrevê-lo; percebo que é útil publicar, mesmo que aqui, os pensamentos que me incitam a comentar a vida alheia.

Nosso contexto, como seres humanos, sofre um choque quando nos referimos ao mundo. Sentimos que na sociedade há conflitos de valores em seus pensamentos, principalmente quando se referem a valores materiais e imateriais.

Disse, outrora, que o mundo material só o é porque o imaterial o idealizou. E é verdade: qualquer produto que se possa imaginar vem da mente da pessoa e a interação que esta tem com outros.

Concluo que o ser humano precisa, sim, do que nos referimos como necessidades básicas: comida e teto como materiais, carinho e respeito como imateriais. Porém, qual será nosso suporte? O amor? A fé? O ódio? O despeito?

Cada um tem sua maneira de lidar com o mundo. Não existe certo ou errado; as coisas simplesmente são. Quem dita que algo está certo ou errado na sociedade o faz meramente para preservá-la.

É daí que as pessoas se desentendem: realidades são diferentes, ainda mais neste país onde impera a diversidade de culturas. Mas esta realidade, a de ser diferente, a de enxergar lacunas a serem preenchidas, a de às vezes não se reconhecer no outro, pode ser a de ser brasileiro.

Somos, aqui, brasileiros. Mas falta-nos conhecimento para dizer o que realmente significa ser brasileiro. Bem, temos essa falha para descrever o que é ser humano, então poderemos menos ainda delinear uma subdivisão do mesmo.

Enquanto as definições continuarem em suas aproximações - e para sempre o serão - devemos tornar a viver a vida e respeitar cada vez mais a diferença. Para que nos enxerguemos nos outros, para criar algo maior. E reconhecermos de verdade que cada um tem um ser divino dentro de si.

Abraços a todos. Aliás, o abraço é a representação de algo muito significativo. Talvez mais que o beijo.