Pensar Hoje - retratos do agora

segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

Inconsciência

Aquela fresta na janela do seu quarto. Ele não é hermético, é? Podemos achar que somos invencíveis, incríveis, poderosos e até ditadores. Mas nossas flechas não entram pela fresta. Destruímos a janela, mas ela intacta permanece.

O que dizer dos seres que são coração, mais coração que espírito? A ínfima luz é capaz de lavar nossas almas sem sequer perguntar. Quando os indignos por ela clamam, eis a pura consciência - e os que assim permanecem ignoram-na.

Também é aquela luz que sobra em nossos olhos quando olhamos para o fogo e em seguida para o breu. O fogo lambe nossa face e fica impresso na mente. Não ignore o sol, ele cava nossas raízes para enaltecer nossa jovialidade em troca de um pouco de idade.

Já reparou que o tempo passa mais rapidamente no breu? Esquisito, não? O que prefere? Envelhecer sabendo o tempo ou desconhecendo a idade? Pairamos, como moscas, sobre o desejado doce, o destino! Mas qual seria seu destino? Se não sabe, deve procurar. Se sabe, deveria esquecer um pouquinho.

Por que conseguimos tomar sorvetes sem que eles derretam mas não conseguimos alcançar nossos sonhos sem que eles mudem? A inconsciência explica isso. Ela diz "tu a tudo te adaptarás" e vive nos enganando. É nossa cova e nosso desejo - mas morrer um pouquinho é bom para viver muito.

Muito explica o porquê dela ser somente uma fresta: tentamos aos poucos matar a inconsciência mas sempre sobra aquele pouquinho, como num buraco negro: um dia explode levando-nos consigo. E depois a vida é confusa porque tudo o que queríamos era só viver em paz, ter amigos, quiçá alguém.

As pessoas choram-na. Quando não, ela tenta sair pelo peito! Erramos ao subestimar a força do que nos é posto: temos o que podemos segurar. Não podemos fechar os olhos para a luz, ela vem de dentro.

"corde pulsum tangite quod per sortem sternit fortem" (Carl Orff - O Fortuna)

Nenhum comentário: