Pensar Hoje - retratos do agora

sexta-feira, 7 de março de 2008

Filosofia da caixa preta

Imagens têm capacidade intrínseca para profunda representação, ainda que ao mesmo tempo apresentem características superficiais à primeira vista. Elas e percepções de seus conceitos não devem restringir a interpretação do registrado, potencializando a busca pelo real sentido de fotografar e assistir a uma fotografia. Ao buscá-lo, tanto o emissor fotógrafo e o receptor espectador devem ter bagagens compatíveis para tanto captar determinado ponto de vista quanto guardar sua imagem de forma adequada.

Como qualquer objeto, sem qualificação e/ou interpretação películas são desprovidas de valor. Ao permitir a construção da crítica na mente do observador, este terá maior capacidade para detectar a significação imbuída em cada seqüência de imagens – tendo tal significação uma relação direta com a especialidade dada às películas pelos veículos, devendo eles tratar imagens evitando desprovê-las de significado.

Na fenomenologia de Merleau-Ponty, a frase “o verdadeiro Cogito não substitui o próprio mundo pela significação mundo” pode ser utilizada para a fotografia onde a diferenciação entre imagem, película e fotografia é necessária. Sendo assim, a imagem é o produto final da representação feita pela fotografia tendo uma pós produção. A fotografia é o processo para a representação de uma imagem e assim requer um agente ativo para sua realização, e a película é simplesmente um meio para a armazenagem de determinada imagem.

Ganha mais corpo, especialmente pelas películas serem formas para registro atual do que será revisto futuramente, a atemporalidade das mesmas. Mais que palavras ou textos noticiando algo em determinado momento, capturam conceitos do passado em que o observador terá oportunidades para viver ou reviver tais contextos registrados.

Estes devem, não substituindo raciocínios lógicos baseados nos fatos noticiados, envolver possíveis regionalidades culturais a fim de, além de disseminar acontecimentos, informar quais são, qualitativamente, os aspectos com relação à cultura, local ou não, prendido na imagem.

Tornando-se elementos primários, imagens representam também ligações dos fatos e acontecimentos com o ser humano, explicando-lhe qual a sua pertinência em tal universo. Ao amealhar o conceito de pertencimento, é necessária a sabedoria para não influenciar os observadores a um determinado ponto de vista, sob risco de ceifar-lhes a capacidade de interpretação segundo sua cultura, ou serem influenciados a somente enxergar sob vis subterfúgios o que será necessário noticiar.

Como a imprensa, a prensa de películas também não pertence a um universo objetivo, imparcial; faz-se necessário tal reconhecimento para os portadores da informação evitarem a manipulação vil da mesma, lembrando que cada gesto cometido ao fotografar é esforço para capturar, em menor espaço possível, a maior ou melhor representação da imagem da realidade possível, lembrando que ela nunca será absoluta, adaptando a produção ao meio no qual será difundida tal representação.

Imagens e suas diversas representações somente tomarão força ideal na realidade se o caminho à fotografia trilhado tiver duas vias: a do compreendimento à necessidade de, o mais possível, representar o mundo e sua intrínseca complexidade, e a do desenvolvimento ao privilégio de captar e simplificar tal mundo à linguagem da mente.

terça-feira, 4 de março de 2008

Homem-pássaro

Renasce, a cada dia, o Homem-pássaro que há em nós todos. Claro, este não tem exatamente um gênero. Talvez nem seja “suficiente” para os outros anunciarem que tem essência. De luz, sim, ele vive. E dói lembrar, tem gente fazendo questão de matá-lo todos os dias.

Não faz mal, ainda assim ele fala. E diz muito, viu? Esta parte ou este todo está em cada um de todos. Temos a capacidade de renascer todo dia, por isso ele sobrevive mesmo com as pessoas o matando.

Também não faz mal morrer um pouquinho; se ninguém morresse, não teríamos coisas novas, juventude, coisas a criar. E toda nossa cria é nossa responsabilidade. Ai de quem não entende isso. Não faz mal, no fim todo mundo entende.

Mas também não faz bem nascer todos os dias. Olhar pela janela e estranhar a paisagem, perguntar o-que-vamos-fazer-hoje e não ter resposta, não saber o porquê de ter levantado hoje... Que hoje?

Ou morrer todos os dias. Como vamos morrer hoje? Por que? Mas já? É, estranho também. Tudo é estranho, é viscoso, tem cheiro de caramelo vencido, o olhar é sinistro ao irmos embora.

E suas penas douradas não passam desapercebidas, não, não. Rinasce più gloriosa, já diziam. Tal ressureição é dona do berço de nossos bebês morais e da lápide de nossos preconceitos. Quem não mudou um pouquinho hoje?

Faz sentido falar em reforma, que a luz nos guia, o céu é seu viveiro. Por isso o sol a todo dia vem, tal qual a roda da fortuna. E a lua, essência da roda, sempre cresce e mingua. Não tem quem não mude, só isso. Uns demoram, é claro, por teimosia. Como já disse, por dentro a alma só ri se ela quiser.

Por isso a vida muda as perguntas a toda hora, é mesmo! E por isso também devemos morrer ou nascer, não? Para entender, só se perguntando hoje e amanhã. Se a resposta for diferente, algo mudou.

Só não devemos ter vergonha de ter outra resposta amanhã, ela pode ser melhor que a de antes. Deixemos ele voar...